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[ваκκєr]

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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Zero Decibéis: Parem com a tortura musical

Quem lê esse título pode achar que eu moro perto de um clube de pagode, ou que o pessoal do meu bairro gosta muito de um axézinho, ou até que tem uma igreja evangélica na esquina que fica louvando Jesus tão alto que você tem a impressão que o messias deles é surdo. Apesar das três coisas serem verdade, lixo musical é algo com o qual você se acostuma, parte da vida moderna onde animais não-civilizados compram alguns milhares de reais em equipamento de som automotivo para competir pelo QI mais baixo da cidade.
Nada disso se compara ao suplício que o americano Donald Vance passou numa prisão americana no Iraque depois de ser acusado (injustamente e subsequentemente absolvido) de venda ilegal de armas. Preso em uma cela de menos de oito metros quadrados (pense no elevador do seu prédio), Vance foi submetido a dias ininterrúptos de algumas das melhores bandas do mundo, coisa como Nine Inch Nails e Queen. Sem parar. De dia. De noite. No volume máximo. Sem ter pra onde fugir.
Vance mora em Chicago, terceira maior cidade americana. Com certeza ele se viu exposto todos os dias da vida dele ao bom rock pesado (além de hip-hop e outros lixos musicais tipicamente americanos). Mesmo assim, segundo relatou, se os carcereiros tivessem fornecido um cobertor para a cela dele, ele teria se enforcado.
Agora imagine árabes, kurdos, assírios e iraquianos que quase nunca foram expostos a muito mais do que o som de um rebab. Gente que, para ouvir rock e hip-hop, precisava importá-los ilegalmente da Jordânia. Para eles as notas de Bodies do Drowning Pool (hino extra-oficial dos soldados americanos e uma das músicas na lista que a ONG Reprive publicou de ferramentas de tortura musical dos EUA) devem soar como pregos nos tímpanos.
Exagero? Imagine-se preso dentro de um elevador por vários dias ouvindo sem parar a repetição da sua música predileta. Embrulhou seu estômago ? Agora troque sua música predileta pelo tema de Barney e seus Amigos.
Quem me conhece sabe que eu sou apaixonado por música. Sempre acompanho minhas fotos no Fotolog com letras relevantes de músicas que me marcaram. Blipo várias vezes ao dia a trilha sonora da minha rotina. Passei alguns anos da minha vida tentando construir um PC que tocasse MP3 no meu carro, no tempo em que MP3 + carro era uma equação tão absurda quanto avião + dinamite!
Estou chocado. E estou tentando conscientizar as pessoas de que os americanos estão usando uma das mais lindas expressões culturais de seu próprio povo como instrumento de tortura. E ainda acham que, apesar das proibições da ONU e da Comunidade Européia com relação à tortura musical, ela é um "mecanismo inofensivo".
Por isso, se no próximo show que você frequentar o artista pedir um minuto de silêncio em prol do movimento Zero Decibéis, faça como Donald Vance.
Fique em silêncio.

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