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[ваκκєr]

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sábado, 11 de novembro de 2006

A (i)moralidade do teísmo

Eu fui criado dentro de uma casa católica, sob valores cristãos. Estudei em colégio de freiras, frequentei a igreja, fui crismado. Mas a fé católica apostólica romana nunca me atraiu de verdade. E então eu me tornei um estudioso de religiões.
Primeiro foram as monoteístas. Outros cristianismos. judaísmo. islamismo. zoroastrismo e afins. Depois vieram as religiões orientais, as dharmicas (budísmo e hinduísmo, entre outras), as baseadas puramente em regras morais (como o confucionismo e o taoismo chineses, não exatamente religiões, uma vez que não contem credos), além de tantas outras fés gnósticas, duoteístas, politeístas, panteístas, omniteístas etc. Mas é nas três religiões abraãmicas (cristianismo, judaísmo e islamismo) que se concentra a grande maioria da população mundial (seguidas de longe pelas dharmicas) e nestas três os principais temas se repetem. A dualidade entre o bem e o mal (herança do zoroastrismo). O dilema moral (o que é bom é errado e paga uma passagem só de ida para o inferno. O certo, em contraste, leva a uma vida vazia e sem-graça). E Deus. Esse velhinho de barba branca que criou o mundo em uma semana, fazia pegadinhas com os antigos e tem uma visão 100% parcial sobre quem deve ou não ir para o paraíso, essa herança da idade do bronze que nos assombra até hoje.
Então eu encontrei paz no agnosticismo, ou seja, na crença de que certos valores metafísicos como a vida após a morte e a existência de divindades são impossíveis de serem conhecidos, e portanto incoerentes e desimportantes como filosofia de vida. Além do mais, o termo agnóstico é muito menos chocante, do ponto de vista dos fiéis abraãmicos, do que o termo ateu, aquele que nega a existência de Deus(es). E assim, como tantas outras pessoas esclarecidas, me tornei um agnóstico de armário, tentando ao máximo não esfregar minha descrença na cara da grande maioria teísta.
Então, um tempo atrás, eu fui exposto a uma filosofia nascida das pressões do mundo teísta moderno, das tentativas governamentais de confundir biologia e religião, dos massacres executados por monoteístas fanáticos contra 'infiéis' e da irresponsabilidade das autoridades monoteístas com relação aos problemas do mundo. Esta filosofia é o Novo Ateísmo, onde se encaixam os naturalistas ou Brights. O termo Bright foi criado para englobar naturalismo, livre-pensamento, ateísmo, agnosticismo, ceticísmo, secularismo, racionalismo e afins dentro de um único panteão de pensamentos arreligiosos. Mas o caldeirão de irreligiosidade Bright deu origem também ao movimento neo-ateu, e seus proponentes, cientístas e filósofos como Richard Dawkins, Sam Harris, Daniel Dennett, além de estrelas como Greg Graffin e Penn & Teller, defendem que o irreligioso tem a obrigação moral de des-evangelizar os abraãmicos e convencê-los de que sua fé, além de vazia, é imoral.
Imoral, você meu leitor me pergunta, uma pedra em cada mão, pronto para me apedrejar. Sim, repetem os Brights, as mazelas que são trazidas ao mundo em nome do Deus de Abraão são culpa de todos os fieis que engrossam as linhas de suas respectivas religiões. Se você é católico, mas usa camisinha, ainda assim é culpado por seu Papa pregar abertamente contra o uso de preservativos. A escalada da AIDS no mundo é séria demais para que você seja conivente com tal aberração por puro respeito. Se você é judeu mas acha que os palestinos tem direito a seu próprio pedaço de terra, você ainda assim é culpado pelas centenas de mortes causadas pelo estado de Israel todos os anos. Estas mortes são feitas em seu nome, aceite a responsabilidade pelos atos de seus iguais. Se você é muçulmano mas não tem nada contra os Estados Unidos, ainda assim é culpado pelas falsas jihad executadas pelos seus co-fieis, matando milhares de inocentes de todos os credos, em nome de Deus. Se você vive sob os preceitos de uma religião, você sustenta e é conivente com as medidas dela, por mais condenáveis que elas sejam. Apenas pela rejeição da falsa fé é que é possível destruir estas condutas imorais. E nós, irreligiosos de armário, somos culpados também, por termos vergonha de nosso naturalismo, em respeito às suas superstições metafísicas tolas. Se o Papa se vir sem fieis para apoiar suas medidas, ele terá de mudar seus atos ou assistir sua igreja morrer. O mesmo vale para os rabinos e os imans e todos os outros líderes religiosos. Uma religião só é tão forte quanto os seus fiéis.
A missão do novo-ateu é iluminar. Trazer aquela pessoa que não vai à igreja mas se professa católico, aquele judeu que come cheeseburger com bacon e aquele muçulmano monógamo que deixa a mulher trabalhar para o lado de cá da dualidade teísmo/ateísmo. Somente assim, pregam os Brights, é possível acabar com as mazelas da religião.
Mas será ?
Eu continuo, depois de conhecer os Brights, um agnóstico de armário. Eu aceito, na verdade até aprovo, a religião dos meus amigos. Acho positivo uma pessoa aderir a um conjunto de regras morais, sejam elas escritas por Yehoshua Natsaraya, Siddhārtha Gautama, Lao Tzŭ, ou quem seja. Apesar de hoje me considerar um Bright, discordo da idéia de que as religiões e especialmente os monoteismos abraãmicos sejam inerentemente malígnos. Concordo, na verdade sempre concordei, que os líderes religiosos abraãmicos são responsáveis por boa parte do sofrimento humano, mas acredito que paz e fé não sejam incompatíveis, apesar de rejeitar ativamente a fé como filosofia de vida.
Agora só faltam vocês, fieis, provarem que são capazes de viver em paz uns com os outros e aceitarem que todo mundo tem direito ao seu próprio conjunto de crenças.

5 comentários:

Flavio Reino disse...

Uma vez escrevi algo sobre o meu comportamento pragmatico e o desgosto que o mesmo me fornece... Sobre eu invejar as pessoas de fé.
Isso ainda é verdade, apesar de eu continuar me esquivando de qualquer titulo religioso..

Mas, o Tao Te Ching me mostrou algo com o qual me identifico... Filosofia sempre me foi mais palpavel que fé.

A ideia de ser um Bright nao eh ruim, mas eles me lembram mto dos evangelicos com suas tentativas de converter as pessoas pro lado deles...
Entao, seriam eles melhores ou piores que os evangelicos?
Eh algo pra se pensar.. Eu acho que todo exagero eh errado... Nao importa como.

Abraços e bjundas pra vc senpai :P

the_everlasting disse...

Eu ultimamente não to afim de saber o que acontece comigo depois da morte mesmo.. Porque eu quero que acabe mesmo!
Mas tudo escrito foi bem interessante :D

Anônimo disse...

humm bem.. eu ja pulei de galho em galho.. ja li de tudo um pouco.. ja fui em terreiro.. candomblé.. afins.. igreja.. gosto de tudo um pouco que me de respostas e me satisfaça.. agora se me perguntar qual.. acredito que espirita hoje me da algumas mais respostas que as outras.. mas.. bonito isso ai encima heim??!! vc leu num livro foi.. hu hu.. abraços pra vcs..

: puella incomitata : disse...

A religiao tem que morrer. Die! Die! Die!

Anônimo disse...

A vida é uma incógnita...estranha. Nós Homens, utilizámos desde sempre a religião como uma explicação para fenómenos como a morte (que sempre nos aterrorizou), daí a religião ser bastante questionável. Eu também fui criado num lar denominado católico mas, tal como você, nunca me senti atraído. Então decidi ficar com um ideal sofista (impulsionador, de certa forma, para o mais tardio antropocentrismo). Não blasfemo de modo algum as crenças, e eu, mesmo tendo esse ideal, sinto-me sempre tentado em acreditar numa força maior daí, tal como anteriormente referi, ser um tema muito contestável. O problema é bem esse! Eu "curvo-me" perante o seu apelo, mas você também concorda que isso é utópico, não? Pessoalmente eu gosto mais da ideia que John Lennon transmite na sua música "Imagine". Neste Mundo cão só nos resta sonhar...
Achei muito pertinente o seu artigo e espero que continue a publicar as suas ideias.