Este bloguezinho tem seus vinte ou trinta visitantes por semana. Mas nos últimos sete dias, graças à menção da tradução de Printcrime no BoingBoing, ele teve 270. Sim, um aumento bem na faixa dos mil-por-cento. Mas o mais interessante foi ver como os leitores do BoingBoing e do Craphound.com, e por herança indireta nesses sete dias meus próprios leitores, são de uma estirpe diferente do resto da internet. Usando estatísticas desse próprio blog, das três semanas anteriores, metade dos leitores era usuária de Internet Explorer (este número na internet em geral é ainda maior) mas nessa semana o Firefox dominou com mais de 60%. Em sistemas operacionais a coisa foi ainda mais brava: nas três semanas anteriores o Windows dominava com mais de 90%. Na semana da publicação de Printcrime, um décimo dos leitores usava Linux, mais de 15% usava Mac OS e até mesmo um iPhone e quatro iPod Touch visitaram o Crônicas, o que dá pra lá de 5 vezes mais usuários de sistemas 'alternativos' do que normalmente. Mesmo os usuários de Windows evoluíram: nenhum usuário de Vista nas três semanas anteriores contra praticamente 25% de Vista na semana passada.
Onde quero chegar com tudo isso ? Primeiro, que a adoção de tecnologias acontece em diferentes rítmos em diferentes círculos sociais. Segundo, que existe sim um usuário "médio" e uma "elite esclarecida" (que aparentemente precisa ser convidada por uma celebridade pra dar as caras no meu blog, caso contrário ela desaparece correndo). E terceiro que apenas um décimo de usuários de Linux num país em que ninguém tem dinheiro pra gastar em software é MUITO pouco. Existem versões de Linux com a mesma facilidade de uso do Windows e que não custam nada, nem obrigam as pessoas a recorrer à pirataria (eu uso uma licença acadêmica de Vista 64 bits, antes que alguém me acuse de hipocrisia). Para aqueles que precisam de um empurrãozinho extra, eu recomendo o Ubuntu e o OpenSUSE.
Tá esperando o que pra ir lá e trocar esse Windows pirata aí, vagabundo !?
Este blog não possui nenhuma afiliação social, empregatícia, financeira ou política a não ser comigo mesmo. As opiniões expressas aqui refletem meu ponto de vista sobre assuntos aleatórios e nada mais. Comentários são mais do que bem vindos, são encorajados, positivos ou não. Até prefiro comentários oposicionistas, afinal um mundo que pensa igual é desprovido de inovação. Portanto, sinta-se em casa. Espero que ler minhas verborréias esporádicas traga-lhe o mesmo prazer que tenho produzindo-as.
[ваκκєr]
P.S. Algumas vezes algo que eu quero expressar não pode ser dito (apenas) com palavras, então vai parar em meu fotolog ao invés de aqui. Confira-o de vez em quando.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Printcrime
Printcrime - Copie esta história
Esta história foi originalmente publicada na revista Nature em janeiro de 2006. A revista devolveu ao autor os direitos de impressão do texto e ele o licenciou nos termos da Creative Commons, sob os quais ele está sendo reproduzido aqui. O resto deste site está coberto por termos da Creative Commons específicos para o Brasil.
Cory Doctorow
Os tiras destruiram a impressora do meu pai quando eu tinha oito anos. Eu me lembro do cheiro quente de rolopack no microondas, do olhar de concentração furiosa do papi enquanto ele a enchia de geleca fresca e da sensação de recém tirados do forno dos objetos que saíam dela.
Os tiras entraram brandindo os cacetetes, um deles lendo o mandado através de um megafone. Um dos clientes do papi tinha vendido ele. A polícia pagou em drogas de alto nível - anabolizantes, suplementos de memória, aceleradores metabólicos. O tipo de coisa que custa uma fortuna na farmácia; o tipo de coisa que você pode imprimir em casa, se não se importar com o risco da sua cozinha se encher de corpos grandes e musculosos com cacetetes balançando no ar acertando tudo e todos em seu caminho.
Eles destruiram o baú da vovó, aquele que ela trouxe da terrinha. Eles acabaram com a nossa geladeira e com o purificador de ar que estava na janela. Meu canarinho escapou da morte se escondendo no cantinho da gaiola quando um grande pé embotinado transformou quase que ela inteira num emaranhado de arame de impressora.
Papi. O que eles fizeram com ele. Quando acabou, parecia que ele tinha brigado com um time de rugby inteiro. Eles o arrastaram pra fora pros repórteres darem uma boa olhada nele enquanto era jogado pra dentro do camburão. Tudo isso enquanto um porta-voz contava ao mundo que a máfia da pirataria do papi tinha sido responsável por pelo menos 20 milhões em contrabando e que meu papi, o vilão desesperado, tinha resistido à prisão.
Eu via tudo pelo telefone, nos restos da nossa sala de estar, olhando a tela e me perguntando como alguém podia olhar pro nosso apartamentinho naquele prédio horrível e achar que era a casa de um chefão do crime organizado. Eles levaram a impressora, lógico, e mostravam a coisa como um troféu para os repórteres. O cantinho dela na kitchenete parecia horrivelmente vazio. Quando eu me recompus, resgatei meu canarinho e arrumei o apartamento, coloquei um liquidificador lá. Tinha sido impresso, então só ia durar um mês antes de eu ter que imprimir novos rolamentos e peças móveis. Naquele tempo eu sabia desmontar e re-montar qualquer coisa que pudesse ser impressa.
Quando eu fiz 18 o papi saiu da cadeia. Eu só fui visitá-lo três vezes - no meu aniversário de dez, no dele de cinqüenta e quando a mami morreu. Fazia dois anos que eu não o via e ele estava um caco. Uma briga na cadeia deixou ele manco e ele olhava tanto por cima do ombro que parecia um tique. Eu estava envergonhada quando o minitaxi nos deixou na frente do prédio e tentei manter distância daquele esqueleto manco e arruinado enquanto subíamos as escadas.
"Lanie," ele disse, e me fez sentar. "Você é uma garota esperta, eu sei disso. Você não sabe onde seu velho papi pode arrumar uma impressora e um pouco de geleca?"
Eu apertei meus punhos com tanta força que as unhas machucaram as mãos. Eu fechei os olhos. "Você ficou na cadeia por dez anos, papi. Dez. Anos. Você vai arriscar mais dez pra imprimir mais remédios, liquidificadores, laptops, chapéus de grife?"
Ele sorriu. "Não sou idiota, Lanie. Aprendi minha lição. Não tem chapéu ou laptop que valha ir pra cadeia. Não vou imprimir essa porcaria nunca mais."
Ele fez uma xícara de chá, que ele agora bebia como se fosse whiskey, uma bicada seguida de um longo suspiro. Ele fechou os olhos e se recostou na cadeira.
"Vem aqui Lanie, deixa eu cochichar no seu ouvido. Deixa eu te contar o que eu decidi nos meus dez anos de cadeia. Vem aqui e escuta o idiota do seu papi."
Eu senti uma pontada de culpa por ter gritado com ele. Ele estava meio lelé, isso era óbvio. Sabe Deus o que ele passou na cadeia. "O que, papi?" eu perguntei, chegando o ouvido junto dele.
"Lanie, eu vou imprimir impressoras. Muitas impressoras. Uma pra cada pessoa. Vale a pena ir pra cadeia por isso. Vale qualquer coisa."
Esta história foi originalmente publicada na revista Nature em janeiro de 2006. A revista devolveu ao autor os direitos de impressão do texto e ele o licenciou nos termos da Creative Commons, sob os quais ele está sendo reproduzido aqui. O resto deste site está coberto por termos da Creative Commons específicos para o Brasil.
Cory Doctorow
Os tiras destruiram a impressora do meu pai quando eu tinha oito anos. Eu me lembro do cheiro quente de rolopack no microondas, do olhar de concentração furiosa do papi enquanto ele a enchia de geleca fresca e da sensação de recém tirados do forno dos objetos que saíam dela.
Os tiras entraram brandindo os cacetetes, um deles lendo o mandado através de um megafone. Um dos clientes do papi tinha vendido ele. A polícia pagou em drogas de alto nível - anabolizantes, suplementos de memória, aceleradores metabólicos. O tipo de coisa que custa uma fortuna na farmácia; o tipo de coisa que você pode imprimir em casa, se não se importar com o risco da sua cozinha se encher de corpos grandes e musculosos com cacetetes balançando no ar acertando tudo e todos em seu caminho.
Eles destruiram o baú da vovó, aquele que ela trouxe da terrinha. Eles acabaram com a nossa geladeira e com o purificador de ar que estava na janela. Meu canarinho escapou da morte se escondendo no cantinho da gaiola quando um grande pé embotinado transformou quase que ela inteira num emaranhado de arame de impressora.
Papi. O que eles fizeram com ele. Quando acabou, parecia que ele tinha brigado com um time de rugby inteiro. Eles o arrastaram pra fora pros repórteres darem uma boa olhada nele enquanto era jogado pra dentro do camburão. Tudo isso enquanto um porta-voz contava ao mundo que a máfia da pirataria do papi tinha sido responsável por pelo menos 20 milhões em contrabando e que meu papi, o vilão desesperado, tinha resistido à prisão.
Eu via tudo pelo telefone, nos restos da nossa sala de estar, olhando a tela e me perguntando como alguém podia olhar pro nosso apartamentinho naquele prédio horrível e achar que era a casa de um chefão do crime organizado. Eles levaram a impressora, lógico, e mostravam a coisa como um troféu para os repórteres. O cantinho dela na kitchenete parecia horrivelmente vazio. Quando eu me recompus, resgatei meu canarinho e arrumei o apartamento, coloquei um liquidificador lá. Tinha sido impresso, então só ia durar um mês antes de eu ter que imprimir novos rolamentos e peças móveis. Naquele tempo eu sabia desmontar e re-montar qualquer coisa que pudesse ser impressa.
Quando eu fiz 18 o papi saiu da cadeia. Eu só fui visitá-lo três vezes - no meu aniversário de dez, no dele de cinqüenta e quando a mami morreu. Fazia dois anos que eu não o via e ele estava um caco. Uma briga na cadeia deixou ele manco e ele olhava tanto por cima do ombro que parecia um tique. Eu estava envergonhada quando o minitaxi nos deixou na frente do prédio e tentei manter distância daquele esqueleto manco e arruinado enquanto subíamos as escadas.
"Lanie," ele disse, e me fez sentar. "Você é uma garota esperta, eu sei disso. Você não sabe onde seu velho papi pode arrumar uma impressora e um pouco de geleca?"
Eu apertei meus punhos com tanta força que as unhas machucaram as mãos. Eu fechei os olhos. "Você ficou na cadeia por dez anos, papi. Dez. Anos. Você vai arriscar mais dez pra imprimir mais remédios, liquidificadores, laptops, chapéus de grife?"
Ele sorriu. "Não sou idiota, Lanie. Aprendi minha lição. Não tem chapéu ou laptop que valha ir pra cadeia. Não vou imprimir essa porcaria nunca mais."
Ele fez uma xícara de chá, que ele agora bebia como se fosse whiskey, uma bicada seguida de um longo suspiro. Ele fechou os olhos e se recostou na cadeira.
"Vem aqui Lanie, deixa eu cochichar no seu ouvido. Deixa eu te contar o que eu decidi nos meus dez anos de cadeia. Vem aqui e escuta o idiota do seu papi."
Eu senti uma pontada de culpa por ter gritado com ele. Ele estava meio lelé, isso era óbvio. Sabe Deus o que ele passou na cadeia. "O que, papi?" eu perguntei, chegando o ouvido junto dele.
"Lanie, eu vou imprimir impressoras. Muitas impressoras. Uma pra cada pessoa. Vale a pena ir pra cadeia por isso. Vale qualquer coisa."
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