Este blog não possui nenhuma afiliação social, empregatícia, financeira ou política a não ser comigo mesmo. As opiniões expressas aqui refletem meu ponto de vista sobre assuntos aleatórios e nada mais. Comentários são mais do que bem vindos, são encorajados, positivos ou não. Até prefiro comentários oposicionistas, afinal um mundo que pensa igual é desprovido de inovação. Portanto, sinta-se em casa. Espero que ler minhas verborréias esporádicas traga-lhe o mesmo prazer que tenho produzindo-as.

[ваκκєr]

P.S. Algumas vezes algo que eu quero expressar não pode ser dito (apenas) com palavras, então vai parar em meu fotolog ao invés de aqui. Confira-o de vez em quando.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Ateísmo e Fé

Nos últimos tempos, tenho respondido várias vezes (inclusive várias vezes para a mesma pessoa) uma pergunta cuja resposta, em primeira instância, surpreende: "Ser ateu é não ter fé ?"
Não, não é.
Em primeira lugar, há um problema de semântica. Fé, segundo o Dicionário Aurélio, é "crença religiosa; crédito; confiança; firmeza ou pontualidade no exercício de um compromisso" etc. O significado mais óbvio de confirma-se como crença religiosa, mas é também confiança. Enquanto os fiéis de tantas religiões confiam em Deus, ser ateu é apoiar sua fé no gênero humano. Enquanto as religiões pregam a bondade divina, ser ateu é crer na bondade inerente do ser humano. Enquanto o crente reza pela ajuda divina na solução de seus problemas, o ateu crê na sua capacidade de solucionar qualquer situação na qual ele se encontrar.
Miyamoto Musashi, conhecido como o maior samurai de todos os tempos, escreve no décimo nono mandamento do Dōkkodō (Caminho a ser seguido sozinho) que deve-se "respeitar Buddha e os deuses, mas não contar com sua ajuda". O que Musashi disse é um importante preceito da vida agnóstica: problemas se originam no mundo físico e neste mesmo dever ser solucionados. Confundir os seus problemas pessoais com os do seu (hipotético) criador é uma falácia lógica: se Deus te ama incondicionalmente ele não se involve em criar problemas para você, portanto não deve solucioná-los para você tampouco.
Toda a minha experiência com o décimo-nono mandamento nasceu do meu diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção. Antes do tratamento de TDA/H, eu me considerava um fracasso ambulante, impotente para resolver meus problemas e traído pela minha fé. Havia muitos anos eu não ia à igreja, mas a experiência de fracassar academicamente três vezes seguidas depois de ter tido uma educação secundária exemplar me levou a questionar de uma maneira inédita a existência de Deus.
O período do tratamento psiquiátrico, com Ritalina e antidepressivos, foi muito produtivo, mas a terapia foi o que realmente abriu meus olhos para a verdade: quem tinha que resolver as falhas inerentes da minha personalidade era eu mesmo. Remédios, assim como Deus, são um paliativo interessante, mas ultimamente ineficiente. Atualmente estou sem medicação há mais de um ano, estou vivendo minha vida um dia de cada vez e aprendi que a melhor maneira de solucionar meus problemas é criá-los em menor número possível. Faço apenas aquilo que está dentro dos meus limites, vivo meu próprio rítmo e faço o melhor que eu posso sempre, para mim e para os outros.
E na minha opinião esta é uma lição muito importante que os crentes em geral tem a aprender com a vida agnóstica: acreditar que o mundo pode ser melhor e que o poder para fazê-lo está dentro de você.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

O melhor fim-de-semana do ano

Tudo bem, foi o primeiro fim-de-semana do ano, então muitos melhores hão de vir. Mas nesse domingo e terça-feira (e terça é fim-de-semana ? É sim, se você está de férias) começaram as duas principais feiras de eletrônicos dos Estados Unidos (e, com o final da E3, as únicas que valem a pena): CES e Macworld. A CES viu muita coisa interessante acontecer (e outras tantas não acontecerem, como o lançamento do já visto, esperado e não-lançado Xbox 360 com saída digital de alta definição). Televisores de LCD de 60 polegadas por 3 mil dólares, o lançamento oficial do Windows Vista, GPSs automotivos de todo tipo (um modelo Microsoft virá de fábrica em todos os Ford americanos de 2007, outro modelo, da Dash, será capaz de se comunicar com outros carros ao redor dele, outros tantos modelos grandes, pequenos, embutidos, portáteis etc), câmeras de vídeo de alta definição, tocadores de Blu-ray, HD-DVD e dos dois ao mesmo tempo, celulares com televisão ao vivo...
Já o discurso de abertura da Macworld de hoje abriu um buraco no continuum espaço-tempo: a Apple finalmente anunciou o iPhone (maiores detalhes no meu fotolog), que em menos de 12 horas de existência já virou o assunto mais quente até mesmo no Orkut ! Até a entrada do mesmo no mercado, em julho, eu vou mandar um e-mail por dia pra TIM, Claro, Oi e Vivo (que agora também opera GSM) exigindo o aparelho o quanto antes.
Mesmo o iPhone sendo a melhor invenção desde o pão de forma fatiado, uma das melhores notícias dessa noite de terça-feira foi a quebrada de cara que a Sony tomou.
Durante a CES são entregues diversos prêmios, e no press-release que a Sony publicou de sua presença na feira este ano constava um Emmy de Maior Inovação Tecnológica da Área de Jogos Eletrônicos para o nada revolucionário e totalmente desprovido de inovação controle do seu console (este sim inovador) Playstation3. Depois de 2 dias de intensa coçação de cabeça de toda a imprensa especializada, a Academia de Artes e Ciências Televisivas (associação americana responsável pelo prêmio Emmy) informou que o controle SIXAXIS não havia ganho nenhum prêmio Emmy de inovação tecnológica, e que o tal prêmio nem mesmo existia ! O que aconteceu, sim, foi que a Academia decidiu agraciar Nintendo e Sony com uma citação especial pelos controles do NES e do Playstation, por terem moldado as atuais gerações de interfaces de jogos.
Tudo bem que o fracasso de logística da Sony foi humilhante (a fabrincante japonesa teve de somar as vendas do seu console anterior ao lançamento atual para poder declarar-se a marca que mais vendeu video-games do ano) mas pra que mentir ?

P.S. Antes que me acusem de fanboyismo, a Microsoft também quebrou a cara muito feio. O tocador de MP3 dela, o supostamente revolucionário Zune, tem sido um fracasso completo de vendas e concorrentes anunciados nos últimos dias como o Sandisk Sansa Connect e o próprio Apple iPhone devem colocar um ponto final nos planos microsoftianos de tomar o mercado de música da Apple.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Lasciatemi Morire

Piergiorgio Welby morreu na manhã do dia 20 de dezembro de 2006, aos 60 anos de idade (completaria 61 no dia de kwanzaa, 26 de dezembro). Diagnosticado com distrofia muscular em 1962, as condições físicas do poeta italiano deterioraram até 1997, quando ele passou a precisar de um respirador artificial. Sua condição tomou um rumo ainda pior no final do ano passado, quando Welby se tornou totalmente incapaz de falar, escrever e se alimentar, apesar de se manter totalmente consciente. No dia 19 convenceu seu médico a sedá-lo e desligar os aparelhos que o mantinham vivo.
Welby, profuso escritor e poeta, nunca foi especialmente conhecido por sua literatura, mas como um membro do Partido Radical e propagandista da legalização da eutanásia Welby fez muito barulho. Em 2006 publicou um livro intitulado Lasciatemi Morire, ou Deixem-me Morrer. A Italia (como o Brasil) é profundamente católica e lá (como aqui) a eutanásia é vista como um crime contra a vida e pode ser punida com 15 anos de cadeia.
Seu livro causou grande desconforto entre os italianos, que só fez piorar em novembro quando Welby escreveu uma carta aberta ao presidente Giorgio Napolitano requisitando o mesmo direito que belgas, suiços e outros nacionais da Europa tem de morrer em paz. O comunista napolitano previsivelmente negou a Welby o direito de decidir quando terminar sua própria vida, direito que foi reiteradamente negado pelos tribunais.
O terceiro momento de desconforto causado por Welby em 2006 foi seu ato final de desobediência civil, terminando sua própria vida. Desconforto tal que levou a Igreja a negar a Welby (católico fiel) o direito a um velório e o Papa Bento XVI a usar seu sermão do domingo 24 de dezembro, véspera de Natal, para reiterar a crença da igreja na santidade da vida humana até seu fim natural.
Natural é a palavra em questão aqui. Não houvesse hoje em dia condições tecnológicas para mantê-lo vivo, Welby teria falecido em 1997 ou, mesmo que sobrevivesse, não teria passado de novembro, quando tornou-se incapaz de se alimentar. Então não seria a Igreja obrigada a impedir, em primeiro lugar, que seus fiéis fizessem uso de artifícios que prolonguem a vida ? Onde começa e termina a definição de vida sagrada e natural da Igreja ?
A verdade é que a Igreja moderna perdeu o rumo quando perdeu a chance de sancionar o uso de camisinha pelos fieis. De lá pra cá (e historicamente em dezenas de momentos) os católicos são culpados por milhões de mortos, doentes, rejeitados, os mesmos nescessitados que Yehoshua Natsaraya (Jesus Cristo para os menos íntimos) pregava ajudar. O combustível da Igreja, aparentemente, é a hipocrisia.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Qual a sua idade cerebral ?

Durante anos psicólogos e psiquiatras tentaram medir as capacidades cognitivas através de inúmeros quocientes. Alfred Binet e Theodore Simon criaram o primeiro teste de "inteligência" em 1905 e, por volta de 1912 sua medida passou a ser conhecida como Intelligenz-Quotient (nomenclatura dada pelo alemão William Stern), ou, abreviado e em português, QI. Por volta dos anos 20 começou a surgir nos Estados Unidos um novo conceito, a inteligência social, dividindo as capacidades mentais em "diferentes inteligências", baseados especialmente na incapacidade dos testes de QI em medir com precisão as capacidades cognitivas (o desvio da relação entre QI e notas escolares é um decepcionante 50%). O conceito da inteligência emocional surgiu nos anos 80 com Wayne Payne, Peter Salovey e Jack Mayer e se popularizou em 1995 com o primeiro dos vários livros sobre o assunto de Daniel Goleman. Adicionando à inteligência puramente cognitiva, o QE, como é conhecido, mede a competência pessoal (dividida em auto-conhecimento e auto-gerenciamento) e a competência social (dividida entre conhecimento social e gerenciamento social) (o QE é um conceito profundamente disputado e diferentes pesquisadores dividem esta mesma inteligência em diferentes medidas).
Voltando às medidas puramente cognitivas (o foco deste texto e do texto que o inspirou) no ano passado a Nintendo lançou um título para o Nintendo DS chamado 東北大学未来科学技術共同研究センター川島隆太教授監修 脳を鍛える大人のDSトレーニング (ou, resumindo, traduzindo e deixando de fora boa parte do título, Brain Age). O jogo é baseado no livro do professor Kawashima Ryūta, conhecido no ocidente como Treine seu cérebro: 60 dias para um cérebro melhor. Segundo o professor Kawashima, o segredo de manter boas funções cognitivas é manter o cérebro bem exercitado, e portanto, jovem. O jogo de DS deve ser jogado alguns minutos por dia e apresenta ao usuário, ao final de cada sessão, uma estimativa da idade cerebral do mesmo. Quanto menor for a idade cerebral em relação à idade cronológica, mais saudáveis estão as funções cognitivas. (este é o exato oposto do conceito de idade mental, de onde deriva a medida de QI, e que postula que inteligências inferiores resultam em idades mentais inferiores à cronológica e vice-versa).
Como parte de uma série sobre a ciência do aperfeiçoamento humano, a revista Wired (disclosure: sou um fã baba-ovo da Wired desde seu surgimento 14 anos atrás e não passo um mês sem lê-la) mandou o reporter Joshua Green passar quatro semanas tentando aperfeiçoar suas funções cognitivas. No início da primeira semana Green, que tem 34 anos de idade, mediu desesperadores 44 anos no Brain Age. Vários neurocientistas consultados por Green fizeram a mesma sugestão: melhore sua dieta; vitaminas e proteínas são vitais para boas funções cognitivas. Green passou a tomar cafés-da-manhã (lembrem-se, americanos não almoçam) de suco de laranja e muffins integrais com manteiga de amendoim. Seguindo o conselho de um professor de medicina do sono de Harvard, Green passou a dormir nove horas por dia (o número ideal é de 8,2 a 8,4 horas de sono, o que exige no mínimo 9 horas na cama). Na segunda semana Green, seguindo a sugestão de mais neurocientistas, passou a escovar os dentes com a mão oposta e a tomar banho de olhos fechados (tarefa que ele achou tão complicada que precisou de um tapa-olho e um tapete de borracha para conseguir). Tais tarefas melhoram a propriocepção (orientação espacial relativa, tanto do ambiente como dos próprios membros) e abrem novos caminhos neuronais. Levando a sério o conturbado "Efeito Mozart", Green passou também a ouvir concertos do compositor durante o banho.
Na terceira semana Green fez duas descobertas interessantes. A primeira foi a de que, mesmo sem seu DS por perto, ele poderia treinar suas funções cognitivas em diversos sites (happy-neuron.com e mybraintrainer.com são dois exemplos) e a segunda foi, sem nenhuma surpresa, o café: Green descobriu que sua coordenação visuo-motora melhorou em 5,5% logo após uma xícara matinal. Na quarta semana, Green fez seu teste final no Brain Age. Passou pelos testes de Stroop, sequências de fórmulas matemáticas e labirintos alfanuméricos com uma facilidade muito maior do que no começo do mês. No final, o jogo deu seu veredito.
Joshua Green, 34, um mês de treinamento, tem o cérebro de um homem de 33 anos. Great success!